Própolis vermelha vai ser a principal substância de protetor solar desenvolvido por pesquisadores do ITP

19/01/2016
Própolis vermelha vai ser a principal substância de protetor solar desenvolvido por pesquisadores do ITP
Própolis vermelha vai ser a principal substância de protetor solar desenvolvido por pesquisadores do ITP

Numa cidade como Aracaju, onde a temperatura média tem aumentado a cada verão, fica cada vez mais evidente que o uso do protetor solar é algo indispensável para ajudar a manter a pele saudável. Mas os próximos verões podem chegar com uma novidade na área cosmética no que diz respeito à proteção contra os raios UVA e UVB: um protetor solar à base de própolis vermelha, desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). À frente dos estudos, iniciados em 2013, estão a Profa. Dra. Juliana Cordeiro Cardoso, pesquisadora do Laboratório de Biomateriais e o Prof. Dr. Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque Júnior, pesquisador do Laboratório de Morfologia e Patologia Experimental do ITP. Os pesquisadores são docentes do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente da Universidade Tiradentes e da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio).

Os estudos iniciaram com o objetivo de verificar se a própolis vermelha possuía potencial para proteção de danos à pele quando a mesma sofria a ação de radiação solar. Os pesquisadores e a aluna de mestrado, Ângela Alves, demonstraram os possíveis mecanismos de proteção de uma formulação tópica contendo própolis vermelha, que foi capaz de evitar a queimadura da pele e ajudar no processo de recuperação de uma que fora submetida a esse tipo de trauma.

“Os resultados mostraram que a pele ficava protegida, mas não sabíamos o motivo, por isso fomos buscar estas respostas. Descobrimos que essa proteção acontecia por causa das propriedades anti-inflamatória e antioxidante da própolis vermelha. Agora, nossa pesquisa está na fase de teste em humanos, e a doutoranda Cinthia Meireles estará desenvolvendo um protetor solar com base neste produto natural”, comentou Juliana Cardoso.

Outra situação que possibilitou essa nova etapa das pesquisas foi a descoberta de uma benzofenona na composição química da própolis vermelha. Mas, o que viria a ser essa tal benzofenona? É a substância presente nos protetores solares comerciais e tem como função captar a radiação solar e transformá-la, evitando que haja dano ao DNA e a formação de possíveis doenças, a exemplo do câncer de pele. Neste mesmo estudo químico foi identificada também a presença de flavonoides, que são responsáveis pela ação antioxidante que o produto natural contém, fazendo com que a própolis vermelha tenha ação anti age, ou num bom português, anti-idade ou antienvelhecimento da pele. “Mas essa questão do potencial anti age será uma terceira etapa da pesquisa”, afirmou Juliana Cardoso.

A VEZ DOS HUMANOS

Própolis vermelha - foto do site da UFAL

Os estudos estão avançados e, por isso mesmo, o pedido de patente do produto já foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), e se alguma indústria se interessar, as negociações estão abertas, como informou Juliana Cardoso. Passada a fase de teste em animais, o próximo passo será desenvolver as pesquisas em humanos, o que deve ser iniciado ainda neste primeiro semestre de 2016. A demora para o start consiste apenas em receber o sinal verde do Comitê de Ética da Universidade Tiradentes, que faz parte da Plataforma Brasil de Pesquisa do Governo Federal.

“Sempre que pesquisas vão ser feitas com humanos há a obrigatoriedade de enviar todo o projeto para o Comitê de Ética, que vai analisar a documentação de forma minuciosa antes de liberar os procedimentos. No nosso caso, mesmo sendo um filtro solar, categorizado como cosmético tipo 2, temos que avaliar se será feito algum mal a quem vai estar usando, pois, mesmo um produto sendo de uso tópico ele pode não ser totalmente inócuo. Todo cosmético tem que ser testado, primeiro, para ver se existe algum efeito não esperado, e depois para ver se vai fazer o bem proposto”, explicou a pesquisadora.

Os primeiros testes da formulação foram realizados em peles de ratos para saber sobre a atividade antitumoral e, por exemplo, se causava algum tipo de irritação dérmica ou se deixava a pele pigmentada – já que a própolis tem cor vermelha. Felizmente a irritação e a pigmentação não aconteceram, pelo contrário, o uso foi benéfico e demonstrou o efeito quimioprotetor da substância, que foi determinante para o inicio da fase em humanos. E nesta próxima fase uma das necessidades é identificar o fator de proteção solar, ou seja, encontrar aquele número que fica bem visível na embalagem e que indica quanto tempo vai demorar para uma pele protegida ficar vermelhinha. Como esse fator depende de pele para pele, em cada indivíduo integrante da pesquisa será encontrada a Dose Eritematógena Mínima (DEM).

Juliana Cardoso explicou que a intenção, nestes testes, é utilizar pessoas com peles mais claras, pois são as mais sensíveis. “Portanto vamos atuar tendo como base a pior situação, aquela que vai precisar ser mais protegida, até porque estamos seguindo o protocolo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a regra internacional para filtros solares”, frisou a pesquisadora, comentando ainda que as análises de radiação UVA e UVB nos pacientes-teste ocorrerão com a utilização de uma lâmpada especial, como as utilizadas em bronzeamento artificial.

A PESO DE OURO

Apicultura - Foto Sebrae

Quando perguntada se o produto já deverá estar sendo comercializado no verão de 2017 Juliana Cardoso é cautelosa, não determinando prazo, e informando que após todos os testes em andamento e mesmo com a indústria se propondo a fabricar, ainda tem mais análises a serem realizadas, agora em relação à estabilidade do produto e o prazo de validade “Uma tecnologia nova começa cara, e atrelado a isso tem o fato de a própolis vermelha ainda possuir o preço elevado no mercado. Mas, à medida que ela for sendo percebida e utilizada mais produtores vão produzi-la, e aí poderemos ter uma regulação do mercado”, observou a Professora Doutora.

O quilo da própolis vermelha está custando R$ 700 e é comprada apenas em Alagoas, e por causa da alta produção que têm, os produtores daquele estado já reivindicaram a denominação geográfica própolis vermelha junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Em Sergipe, o município de Brejo Grande era o fornecedor desse “ouro vermelho”, mas os apicultores abriram mão desse cultivo em detrimento da produção do pólen, porque houve, há alguns anos, um boom na procura desse item após algumas reportagens nacionais falando sobre a importância do pólen.

Mas atualmente o mercado está voltado para a própolis vermelha, os japoneses, por exemplo, já fizeram inúmeros trabalhos com a que é produzida aqui no Nordeste e demostraram propriedades antitumorais da mesma. Nos Estados Unidos ela é comercializada por empresas que nasceram em Alagoas. O grupo de pesquisadores do ITP já mostrou a atividade cicatrizante, neuroprotetora e no combate à dor que a própolis vermelha possui. “Brejo Grande é uma localidade que tem o menor IDH do Estado e essa atividade poderia estar ajudando à economia local, por isso, estamos sempre em contato com a Federação dos Apicultores buscando a volta da produção da própolis vermelha na região”, enfatizou Juliana Cardoso.



Veja Mais

Unit e ITP aprofundam pesquisas na área de gás e energias renováveis

Unit e ITP aprofundam pesquisas na área de gás e energias renováveis

13/02/2024 - Entre as iniciativas que buscam fomentar ainda mais o crescimento da produção e do mercado de gás natural, energias ren...

Memorial de Sergipe possui mais de 30 mil peças que contam a história do estado

Memorial de Sergipe possui mais de 30 mil peças que contam a história do estado

14/11/2023 - por Quesia A partir do dia 17 de novembro, os visitantes poderão desfrutar do espaço museológico que reú...

Professor Paulo do Eirado Dias Filho recebe Título de Cidadania Sergipana

Professor Paulo do Eirado Dias Filho recebe Título de Cidadania Sergipana

17/10/2023 - Por Paulo Santos – Agência de Notícias Alese Em Sessão Especial, na tarde desta segunda-feira (16), a Assembleia ...

Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), inicia apresentação de patentes em formato de pitch

Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), inicia apresentação de patentes em formato de pitch

11/10/2023 - O Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) marca um importante passo rumo à promoção do desenvolvimento tecnológ...